Não somos viajantes super experientes, mas já levamos uns km de globo percorridos. Experiências de viagens que já fizemos tranquilizaram-nos quando nos propusemos dar a Volta ao Mundo. No entanto, temos de te confessar: Nova Delhi foi um murro no estômago. Nada do que lemos, nada do que vimos em vídeos ou filmes se aproximou à realidade que nos confrontou.
Chocámo-nos com a miséria e a morte que nos entrava pelos olhos, oferecemos comida a um e surgiram mais três (até foi pouco), caímos em esquemas de principiantes, tivemos náuseas em ruas imundas, demos por nós a evitar falar com os locais. Tivemos de reaprender a viajar neste país que são muitos.
Há algo de “inhumano” nestas pessoas que deambulam pelas ruas escarradas da capital indiana. Que pedem comida e não dinheiro. Que se tapam com roupas delidas. Que contrastam com os jipes que passam.
Ressalvamos que a nossa passagem por Nova Delhi foi apenas de três dias. Demasiado intensos. Para nós, dois dias teriam sido suficientes. Ressalvamos: para nós.
Dessa breve experiência resulta a lista de dicas de sobrevivência que se segue.
1. IR DO AEROPORTO INDIRA GANDHI À CIDADE
Câmbio de Dinheiro
Acabado de aterrar e agora? Nós vivemos em Portugal que faz parte da Zona Euro. Esta é, literalmente, uma boa moeda de troca em grande parte do mundo. Assim, a primeira coisa que fazemos ainda no aeroporto é comprar a quantia mínima possível de moeda local, que dê só para desenrascar o primeiro dia ou as primeiras horas. As cotações que se conseguem nos centros urbanos são muito melhores. No aeroporto Indira Gandhi o mínimo possível foram 50€, com um câmbio de 1€=77R. Baixo! Vê neste texto o tópico Câmbio de Dinheiro.
SIM card
Ao contrário do que costumamos fazer, desta vez não comprámos (nem procurámos) SIM card no aeroporto. Mas sentimos-lhe a falta para encontrar o nosso hostel. Deixamos, portanto, a sugestão que o faças. Vê abaixo como o adquirimos no centro de Delhi.
Transporte
Pela pesquisa que tínhamos feito, já sabíamos que queríamos ir de taxi até Paharganj, bairro onde ficámos alojados. Isto porque o táxi nos daria alguma agilidade e despreocupação após mais de 24h de viagem. No entanto, há outras alternativas: metro, autocarro/ônibus e… diferentes categorias de táxis. Nós escolhemos um “prepaid taxi”, ou seja pré-pago, da categoria mochilão-à-volta-do-mundo! O veículo de olhar dava pena e de espreitar a bagageira dava medo – uma botija de gás ocupava quase todo o espaço com fios à vista. Perguntámos no balcão de informações turísticas quanto tempo e “how much” para esta viagem de 16km. Indicaram que iria demorar 40 min e custaria cerca de 300R. Com esta referência, procurámos adquirir o serviço nos balcões dentro e imediatamente fora da porta do aeroporto. Chegaram a pedir-nos 900R, conseguimos pagar 400R, negociando abaixo disso causámos algumas ofensas.
2. ONDE FICAR
Nós ficámos em Paharganj por quatro motivos: uma amiga falou-nos desse bairro (obrigadx, Cíntia!); encontrámos preços económicos para pernoitar; é central; e lemos sobre como é caótico e como ainda preserva uma atmosfera tradicional em Delhi.
3. PEDIR INFORMAÇÕES
Achas a abordagem marroquina invasiva? Esquece! Na índia é que percebemos o que isso realmente é. O taxi parou em Paharganj e um homem abordou-nos ainda nem a porta tínhamos aberto. Disse que nos ajudava – o hostel ficava numa ruela fora da rua principal e tínhamos como referência o ATM do City Bank. Agradecemos as indicações que nos deu e seguimos. Apareceu de novo. Agradecemos as novas orientações e despedimo-nos. Apareceu de novo. Novas indicações. Parecia um fantasma. Levou-nos até um Tourist Office e aí pensámos que finalmente nos dariam ajuda num serviço público de apoio ao turista. Esquece. Estes Tourist Offices estão espalhados por todo o lado, são empresas privadas intermediárias de serviços turísticos. Queriam cancelar a nossa reserva e arranjar-nos um hotel num “bairro bom”. Disseram que estaríamos a 5km do hostel, quando afinal estávamos a uns 10 min de caminhada.
Então, o que passámos a fazer foi abordar os comerciantes locais e ignorar outros indivíduos que viessem solícitos oferecer a sua ajuda. Percebes agora porque gostaríamos de ter tido o SIM card já activado naquela altura? Fica a dica!
4. REAGIR ÀS CONSTANTES ABORDAGENS
As perguntas da praxe são: De onde vens? Quando chegaste a Delhi?
Quando viajamos gostamos de nos aproximar dos locais. Partilhar de onde vimos, o que nos trouxe até lá e, assim, abrir uma conversa noutros sentidos. Delhi, com todos os seus esquemas, fez-nos rever esta abertura. Pássamos de sorrir e parar para conversar para chegar a evitar os locais.
Primeira sugestão: nunca assumas que é a tua primeira vez na Índia. Responde de forma evasiva e conclui a conversa rapidamente, porque eles acabam por nos testar e percebem que mentimos.
Segunda sugestão: põe em prática o “não”! “Não preciso, já tenho”. “Não quero”. “Não não não!”, como gritava uma alemã no meio da rua de paharganj quando a conhecemos. Não era a primeira vez dela em Delhi. Não era mesmo. Não. Enfim, aqui vais ter de dizer “não” muitas vezes, mas obviamente procura manter a calma e uma atitude de respeito – portanto, sem gritar.
5. ENGOLIR A SENSAÇÃO DE IMPOTÊNCIA
A Índia confronta-nos a todo o momento não com pobreza, mas miséria; não com mendigos, mas com moribundos; não com pedintes, mas com subnutridos; não com animais abandonados, mas escorraçados; não com incapacidade, mas com deformidade. Delhi escancara-se assim neste cenário apocalíptico de inumanidade.
Dá vontade de fazer alguma coisa, tudo, qualquer gesto parece que vai fazer a diferença. Contamo-vos um episódio. Acabados de aterrar, estávamos no táxi retidos no trânsito. Aproxima-se um mendigo e estende-nos a mão pela janela. O Henrique deu-lhe um sumo que tinha. De imediato, aparece uma miúda na janela oposta. O Henrique entregou outro sumo. Aparece, então, uma mulher. Demos-lhe um pacote de aperitivos ainda do vôo. Nesse momento, o trânsito começa a fluir.
Os cães e as vacas, que deambulam como cães abandonados, rasgam-nos o coração. Aqui os cães não abanam a cauda. Alimentam-se do lixo. Deitam-se na estrada confrontando a torrente de veículos impacientes. Acho que pedem para morrer. Dar-lhes comida? Sim. A um. E o olhar do outro? Ok. E de todos os outros?
Aqui os pequenos gestos multiplicam-se em dezenas, centenas, milhares de olhares suplicantes que nos estremecem o coração. Pela nossa integridade e sanidade, sei que parece cínico e contraditório, temos precisado enregelar o coração. Welcome to India!
6. COMPRAR SIM CARD
A Índia tem um território imenso, pelo que dificilmente uma única operadora de telecomunicações terá boa cobertura em todas as regiões. Airtel, BSNL (empresa do Estado) e Vodafone são, aparentemente, das maiores operadoras nacionais.
A nossa experiência foi com um cartão da Vodafone, adquirido numa das bancas de rua de Paharganj (erro! Continua a ler, por favor), com chamadas nacionais gratuitas (não sabemos as condições honestamente) e 1.4Gb por dia de internet 3G/4G, durante 3 meses (o que verdadeiramente nos interessava). O dito cartão custou-nos 1100 R / 13€ (sim, valor total para 3 meses sem necessidade de mais carregamentos). Mas faz-nos um favor e procura melhor: posteriormente percebemos que o custo deveriam ser pouco mais de 400R! E mais, compra numa loja oficial da operadora. Aprendemos uma boa lição quando a duas semanas de sair da Índia o nosso SIM foi bloqueado por falta de documentos. A Vodafone nunca recebeu os documentos do Henrique para o registo. Este é um ponto importante a ter em conta na Índia, aquando da compra e activação do SIM é requerido o passaporte e uma foto que são enviados para a operadora. No nosso caso nada disso aconteceu. O SIM card estava registado em nome de um Peter Scott que nunca conhecemos. Isto obrigou-nos a ter de comprar e activar um novo SIM por 76R, sem dados.
A nossa experiência com a Vodafone foi boa em Nova Délhi, mas no restante percurso permitia um acesso lento e requeria constantemente que reconectássemos. É verdade que em Dharamshala nem os WiFi’s têm aquela velocidade vertiginosa, é um treino de paciência! Ainda assim e dada esta nossa vivência com a Vodafone, recomendamos-te que verifiques os serviços dos dois gigantes: Airtel e BSNL. Por favor, antes de decidires consulta este artigo de Setembro de 2018 que analisa as diferentes operadoras de telecomunicações indianas e dá particular atenção à parte das FAQs.
7. FAZER CÂMBIO DE DINHEIRO
Nos centros urbanos conseguem-se sempre melhores cotações e tanto melhores quanto maior a quantia que cambiamos. Paharganj não foi excepção. A recomendação é ir as lojas identificadas e evitar os cambistas ilegais. Além disso, perguntar em várias antes de realizar a operação.
Conseguimos 1€=82R.
8. LEVANTAR/SACAR DINHEIRO
Aconteceu-nos uma situação insólita ao levantarmos dinheiro no ATM do City Bank. A operação não se concluía após várias tentativas. O segurança de meia idade que ficava sentado à porta, por iniciativa própria, entrou para ajudar. “O limite diário são 10 000R”, explicou. Percebemos porque não conseguíamos levantar 16 000R! Uma vez concluída a operação disse “100R for the work”. Rimos em descrédito de uma situação que não esperávamos. Mais uma lição de Delhi, pensámos.
Então, tenham atenção às “ajudas” (melhor, evitem!) e aos limites de levantamento diário, variam de banco para banco. Além disso, neste ATM do City Bank cobraram-nos 200R de taxa de operação. No Punjab National Bank a sobretaxa foi de 150R.
9. DESLOCAR-SE NA CIDADE
Há diversas alternativas disponíveis como táxis e o metro, mas não chegámos a usar nenhuma destas opções no centro da cidade. Tuk tuks a motor e a pedal são dos principais meios de transporte nesta capital asiática. Acumulam-se uns em cima dos outros e parece que vão provocar um acidente em cadeia a qualquer momento ou mandar uns quantos transeuntes pelo ar. Nada disso! Estes meios de transporte são, provavelmente, dos mais rápidos para se deslocar na cidade. Mais rápidos que ir a pé por vezes, dizemos por experiência própria. Quanto a acidentes, só vimos um, com o tanto que isso nos surpreendeu no meio daquele caos.
Antes de abordares um destes motoristas, simula a deslocação na App so Uber ou Ola. Leva em mente (e por escrito) para onde queres ir, a quantos km fica e quanto tempo de viagem será expectável. Tenta ainda que ponha o “tuktukxímetro” a funcionar (só funcionou em Mumbai!). Assim confrontas com a informação que te der e começas a perceber o que é razoável pagar por cada trajecto. Claro, negocia e compara preços. Uma dica importante, quanto mais velho e menos falar inglês, mais tranquilo decorrerá o serviço!
Ah e Delhi não é sítio para aceitar recomendação de um motorista de Tuk Tuk para ir a um restaurante local ou a um monumento que ele conhece. Delhi está cheia de armadilhas para turistas e o caos em que vive é suficiente para tornar a viagem emocionante por si só.
Para referência, mencionamos percursos que fizemos de tuk tuk a motor desde Paharganj (principal estação de comboio/trem de Delhi) a:
-Chandni Chowk (Old Delhi) 4km 20min 60R
-Red fort 6km 20min 100R
-Akshardham Temple 11km 30min 200R
-Lotus temple 16km 35min 200R
Atenção: a duração da viagem pode variar muito com o trânsito!
Esperamos que estas dicas te facilitem a vida nesta megalópole asiática. Por favor, deixa o teu comentário e partilha o artigo com outros aventureiros. Este é o nosso P4Kto.
Uma descrição comovente, e pungente, em muitas partes do que é a vida em Nova Dheli. Nós, neste mundo ocidental, que temos o privilégio de ter as necessidades mais básicas supridas, nem imaginamos o que é viver de outra forma. Ao ler a vossa crónica, reflicto, mais uma vez, como tudo nesta vida é relativo. As prioridades dependem tanto do contexto em que estamos inseridos. E, claro, no contexto de Nova Dheli, por muita pena que se tenha e por muito que se queira ajudar o próximo, tudo será uma gota no oceano das necessidades. Não é fácil. As vossas dicas e recomendações são sábias. Muitos beijinhos desta prima avida das vossas notícias
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Prima do coração, agradecemos as tuas palavras, todo o carinho e apoio. Beijinho do tamanho do mundo
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