Mal de Altitude: tudo o que precisas saber

Recordo-me da primeira vez que visitámos a Bolívia. Tínhamos lido sobre o Mal de Altitude, mas não tínhamos percebido a verdadeiro extensão e risco que representa. Só passados anos, ao prepararmo-nos para um trekking no Nepal, percebemos que deveríamos estar atentos, saber como lidar com os sintomas e, mais que tudo, preveni-los. O Mal de Altitude não acomete todos da mesma forma. Na maioria das pessoas manifesta-se de forma ligeira, mas o facto é que pode levar a consequências de saúde graves e ser mesmo fatal. O melhor é estar informado e saber como minimizar os seus efeitos para se tirar o melhor partido da viagem.

O QUE É O MAL DE ALTITUDE?
As alterações relacionadas à altitude chamam-se Mal de Altitude ou Mal de Montanha – em inglês “mountain sickness”. Geralmente começam a partir dos 2 500m, devido à redução do nível de oxigénio e caracterizam-se por sintomas ligeiros, como:

  • cansaço
  • dor de cabeça
  • tonturas
  • redução do apetite
  • náuseas
  • vómitos
  • dificuldade em dormir.

Espera-se que estas manifestações recuperem espontaneamente conforme o corpo se aclimatiza, ou seja, consoante se adapta à altitude. Abaixo falamos de alguns cuidados que facilitam esta adaptação.

A uma altitude de 3000m, a concentração de oxigénio reduz para c. de 2/3 relativamente ao nível do mar.

 

PODEM HAVER CONSEQUÊNCIAS GRAVES?
Sim. O maior risco é de surgimento de edema (acumulação de sangue) cerebral ou pulmonar, o que pode ser fatal. Consoante um ou outro quadro de saúde, as manifestações referem-se abaixo.

Edema Cerebral de Grande Altitude
Dor de cabeça que não reduz com analgésicos
Aumento das náuseas
Marcha instável
Hemorragia na retina
Perda progressiva de consciência

Edema Pulmonar de Grande Altitude
Tosse persistente
Falta de ar mesmo em repouso
Febre

O Mal de Altitude deve ser levado a sério, pois pode ser fatal.

 

QUAIS OS FACTORES DE RISCO?
Os factores de risco aumentam quanto maior a altitude e incluem:

  • episódio prévio de Mal de Altitude
  • ascensão rápida
  • duração da permanência
  • elevada actividade física

Viagens de um dia têm menor risco do que dormir em altitude. Na Bolívia conhecemos muitos turistas que aterravam directamente em La Paz, a 3 640m de altitude e que logo nas primeiras 24h queriam “levar uma vida normal”. A falta de prevenção nos primeiros dias pode atrasar o processo de aclimatização.

COMO POSSO PREVENIR?
Os seguintes cuidados são fundamentais para facilitar a aclimatização, principalmente nos primeiros 2 a 4 dias em altitude:

  • manter a hidratação, ingerindo água, sopa e chá
  • não consumir álcool nem café
  • evitar fumar
  • comer alimentos leves
  • descansar
  • evitar actividades físicas intensas
  • ascender no máximo 300m por dia

Ao viajar directamente para destinos como La Paz (3 640m) ou Cuzco (3 300m), o ideal é contemplar tempo no roteiro para permitir esta adaptação.

Uma prática frequente durante trekking em montanha ou alpinismo é subir durante o dia a uma altitude mais elevada e voltar a descer de forma a passar a noite em menor altitude. Deste modo, o organismo gradualmente habitua-se aos menores níveis de oxigénio. Além disso, é importante permitir-se dias de aclimatização nas altitudes mais elevadas, ou seja, dias em que se permanecem duas noites na mesma altitude.

O QUE POSSO FAZER PARA MELHORAR?
Em regiões de altitude, como o Nepal e a Bolívia, facilmente se encontra medicação para estes sintomas nas farmácias. No entanto, tal como nos explicaram localmente numa farmácia em Pokhara (Nepal), esta medicação pode mascarar o agravamento dos sintomas. Assim, só deve ser tomada se o mal estar não diminui e deve-se, em seguida, descer para uma zona de menor altitude.

A sabedoria popular não deve ser ignorada na nossa opinião, por isso, toma nota!
No Nepal, localmente, recomendam sopa de alho. No Annapurna, fartámo-nos de comer esta rica sopa, que dizem ajudar à aclimatização.
Na Bolívia mascar folha de coca e tomar “mate de coca” (chá) são os recursos mais populares para reduzir os sintomas da altitude. Ajuda a respirar melhor, reduz a dor de cabeça e dá energia. Os efeitos estimulantes quando se masca são muito rápidos e, não, não tem nada a ver com a ingestão de cocaína. A venda de folha de coca é legal no país e, geralmente, encontras nos mercados centrais. De qualquer modo, pergunta aos locais e saberão dizer-te.

ESTOU PIOR. O QUE FAÇO?
Sentir sintomas ligeiros é frequente. A questão principal é estar atento caso estes se agravem!
Nesta eventualidade o ideal é descer, pelo menos, 500m para passar a noite, dando tempo a que o corpo se aclimatize.

QUAL A COBERTURA DOS SEGUROS DE VIAGEM?
Quando falamos de seguros, as questões tornam-se nebulosas. O principal ponto de diferenciação pode ser a prática ou não de actividade desportiva. Assim, garante que os seguintes aspectos estão cobertos:

  • altitude máxima coberta pela apólice
  • tipo de actividade desportiva. Por ex., trekking a 4000m pode estar coberto e alpinismo excluído, porque esta actividade envolve maior risco. Garante que a actividade desportiva que irás praticar está especificamente descriminada na apólice
  • tipo de assistência médica coberta em altitude no caso de prática desportiva. Geralmente não vão colocar questões se, por ex., estás em La Paz e precisas de assistência por intoxicação alimentar
  • resgate por helicóptero e respectivo valor coberto. Em dadas regiões como no Annapurna esta é a única forma possível de resgate e o valor cobrado pode chegar aos USD5000

É ainda importante verificar se existe período de carência. Isto diz respeito a uma fase durante a qual não é possível beneficiar das coberturas do seguro, apesar deste já estar pago e a apólice activa. Caso se aplique, garante que só estarás em altitude quando todas as coberturas estiverem disponíveis.

Algumas seguradoras exigem que lhes seja comunicado expressamente quando se vai para altitude.

JÁ TINHAS OUVIDO FALAR DE MAL DE ALTITUDE?
Esperamos que este artigo te ajude e torne a tua experiência em altitude mais fácil. Na nossa Volta ao Mundo, permanecer por vários dias seguidos em altitude foi uma experiência particular, perceber como o corpo se adaptava e como podíamos facilitar este processo. Por curiosidade, sabias que em altitude o ponto de ebulição da água aumenta? Ou seja, fazer um chá leva mais tempo!

Enfim, o que queremos dizer é que tudo faz parte da viagem e são estas experiências que ninguém nos tira. Este é o nosso P4Kto.

FONTES
A Guide to Avoiding Altitude Sickness 
High-Altitude Travel & Altitude Illness 

2 thoughts on “Mal de Altitude: tudo o que precisas saber

  1. Clarabelle Matthieu Rorrys 9 de Agosto de 2020 / 22:56

    Hallo, Ihr Blog ist sehr erfolgreich! Ich sage bravo! Es ist eine großartige Arbeit geleistet! 🙂 Clarabelle Matthieu Rorrys

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    • P4KTO 10 de Agosto de 2020 / 12:38

      Thank you Clarabelle for the kind comment. Really appreciated!

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