Passámos o Natal de 2018 no Deserto do Thar, único deserto da Índia. Estávamos apenas a 70KM da fronteira com Paquistão, onde ainda ocorrem conflitos. Dias antes em Jodhpur, conhecemos a Anna e a Ema. Metemos conversa para dividir um Tuk Tuk até à estação de comboios às 10 da noite. Não trocámos contactos nem combinámos nada. O destino estava de tal forma traçado que acabámos por nos reencontrar junto ao jeep que daria início ao nosso Natal no deserto. A Anna tinha comentado sobre a experiência no Thar, anos antes e que tinha tido um excelente guia. Agora adivinhem quem estava a guardar os camelos à entrada do Thar. Mrs Buda, muçulmano por contradição do nome, nascido e criado no deserto, separou-se da esposa porque ela não compreendia que passasse tantos dias e noites longe de casa, nestas suas digressões pelo Thar a dentro. O deserto é a sua casa, que partilhou gentil e animadamente connosco durante a noite de Natal. Das suas mãos, comemos o melhor Dal em dois meses de Índia e ainda participámos de todo o processo de preparação e cozedura.
As digressões ao Thar iniciam-se em Jaisalmer, conhecida por cidade dourada. Verificámos os preços em agências locais. As ofertas variam geralmente entre pacotes de uma a três noites no deserto. Pela confiança que nos transmitiu e o preço proposto – 1600R cada (7.85€/33.3reais), contratámos o passeio de uma noite com a Thar Desert Tours, localizada no Gandhi Chowk, incluindo o guia e o seguinte programa:
-saída às 14h de Jaisalmer de jeep até ao deserto, c. 1h e meia de viagem
-deslocação com camelos até ao local de acampamento, c. de 1h a 1h e meia
-colchões e mantas para passar a noite. Disseram que haveria uma tenda, caso tivéssemos frio, mas foi mesmo acampamento selvagem
-chai para lanche
-jantar
-café da manhã
-regresso de camelo até ao jeep
-visitas a um cemitério de Maharajas, uma vila de ciganos do deserto e um templo Jainista – acabámos por não querer fazer nenhuma das visitas porque não queríamos lidar com a pressão de vendedores depois de uma noite linda no Thar, além disso não nos parecia tão interessante para pagar todas as entradas
-regresso de jeep a Jaisalmer
Mrs Buda foi um excelente guia, que recomendamos sem pestanejar. Alex, o “meu” camelo e todos os outros foram nascidos, criados e ensinados por ele. Parecem muito bem tratados. Assim que parámos, Mrs Buda rapidamente aliviou-lhes todo o peso do lombo e deixou-os caminhar em liberdade várias horas. Alex passou a noite a comer folhagens junto a nós. O guia envolveu-nos nas diferentes tarefas, desde ajudar com os camelos, a apanhar lenha para a fogueira e a preparar o jantar – por mencionar isso, experimenta a receita.
Mrs Buda é iliterado. Aprendeu inglês com os turistas no deserto. Tem um excelente inglês e imensas histórias para contar. Para registar o número dele, perguntámos como se escrevia o seu nome, ao que ele respondeu: “Como quiserem, eu nunca aprendi a escrever.”.
É possível contratar o passeio directamente com ele e assim reduzir o preço total, seria o que faríamos agora repetindo a experiência. Aqui fica o seu contacto no Facebook para que possam vivenciar o Thar quando estejam em Jaisalmer.
Uma última nota sobre o Thar para quem já fez passeio no deserto do Sahara, que é o nosso caso. São paisagens e experiências muito distintas, pelo que uma não substitui a outra. Nos adorámos o facto de este acampamento ser tão natural, sem tenda, com fogueira para nos aquecer. Diria mesmo que foi um acampamento selvagem e há tantos anos que não o fazíamos. Foi o Natal mais épico da nossa vida.
Este é o nosso P4Kto.